Vamos falar das paixões dos nossos filhos? Daquelas enlouquecidas, que duram duas semanas e que nos deixam loucos também – mas por outras razões. Seu filho lhe conta, animadíssimo, que agora tem jiu-jítsu na escola! E é coisa imperdível! Encantado, você matricula seu atleta, compra uniforme, cria esquemas para ajustar sua rotina. Joia! O que não se faz por um filho? Ainda mais quando quer algo saudável! Logo hoje em dia, com tanta coisa terrível acontecendo, drogas e nem sei mais o quê, mesmo nas melhores famílias. E seu filho amado lhe pede, com fervor, para fazer esporte! Que maravilha! Claro que você deixa. Choque é perceber o número de vezes que os filhos iniciam e depois desistem do “esporte maneiro” que lhe trouxe gastos extras com matrícula, uniformes, táxis e mensalidades. E a canseira não conta? Perplexo, você se pergunta: será que ele está fazendo isso para me irritar? Ou será que tem algum problema? Porque, mais uma vez, ele está ali, diante de você, com aqueles olhos brilhantes, cheios de expectativa, porque um novo amor surgiu: aula de sapateado! O que fazer, deixo ou não? E a tralha toda que comprei faz um mês? O que faço com aquilo? Na infância, e mesmo na adolescência, o interesse por atividades esportivas, culturais e de lazer varia bastante. É normal. Seu filho está descobrindo o mundo. E quanta coisa interessante existe! No passado recente a rua, a calçada e a pracinha eram os locais onde “praticávamos esportes”. Melhor dizendo: aonde íamos brincar de jogar futebol, vôlei, amarelinha, pega-pega, queimado… Salto em altura era com barbante, que delícia! Tudo livre e sem hora! Podia-se começar e dez minutos depois achar entediante, então decidir mudar de brincadeira e mudar de novo cinco minutos depois. Do jeito que quiséssemos. Agora tudo é aula; com professor, horário, duração certa: aula de futebol, de natação, de balé. A gente pulava corda, fazia campeonatos de corrida; em uma hora podíamos trocar de brincadeira cinco, dez, mil vezes. Dá para compreender por que as crianças de hoje não persistem numa mesma atividade. Por que estão brincando – e é vital para elas. Mas, mesmo compreendendo o ponto de vista da criança, o problema concreto existe: não dá para ficar pagando matrícula, deixando uniformes de lado, e comprando tênis especiais a cada quinze dias. O que se deve fazer, além de reconhecer que o mundo hoje é diferente, é estabelecer algumas regras — antes de tudo. Coloque seu filho a par dos gastos que estarão envolvidos na decisão. Afinal, tem tênis que custa mais do que um fogão! Faça essa comparação com ele – será muito útil! A seguir, estabeleça um período mínimo, discutido e definido por ambos: por exemplo, três meses de experiência. E faça com que entenda e se comprometa que não vai desistir antes disso. Fechado o trato, não aceite mudança no plano. Não volte atrás, mesmo que ele insista. Combine com o responsável pelo curso, de permitir que ele participe de duas ou três aulas sem compromisso. Assim seu filho terá uma ideia bem mais concreta do que é o esporte – e poderá decidir se quer mesmo fazer os três meses. Matriculado, faça com que cumpra a palavra empenhada. Se ele desistir depois, tudo bem. Aceite. Lembre-se das brincadeiras nas ruas… E finalmente: se uma atividade extrapolar seu orçamento, diga não. E ponto final. Agindo dessa forma, seu filho terá, no mínimo, dois ganhos: 1) pesará melhor suas decisões – competência fundamental, mas que é também uma aprendizagem, e 2) o ganho maior: terá aprendido que palavra empenhada é palavra cumprida! Se não surgir um grande atleta, surgirá um cidadão…